sábado, 31 de outubro de 2009

It don´t matter if he was black or white



Aconselhada pelas queridas Sandra Pêra e Marília, fui ver This is it – Michael Jackson. Confesso que, mesmo fãzaça (fui a São Paulo só para ver o show dele, já que não viria ao Rio), após toda aquela enxurrada de vídeos com MJ na TV, não me inclinaria a ver esse filme agora.

Mas as duas falavam com tal entusiasmo (S que tinha chorado, M que ia assistir mais cinco vezes) que encarei a sugestão, uma vez partindo delas, como uma ordem. No dia seguinte (ontem), lá estava eu no Leblon 1.

Que festa dos sentidos! MJ em seu domínio absurdo do conjunto, do todo do espetáculo. A precisão da voz e dos movimentos. A musicalidade extraordinária. A impressionante densidade do som, com banda tão enxuta. A assombrosa bateria. Os bailarinos que voam...

Indescritível. Imperdível. Também chorei, doce Pêra. Em I`ll be there. Obrigadíssima pela dica.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Flores! Flores!




Num dia triste de chuva
Foi minha irmã quem me chamou pra ver
Era um caminhão, era um caminhão
Carregado de botão de rosas
Eu fiquei maluca
Por flor tenho loucura, eu fiquei maluca
Saí
Quando voltei molhada
Com mais de dúzias de botão
Botei botão na sala, na mesa, na TV, no sofá
Na cama, no quarto, no chão, na penteadeira
Na cozinha, na geladeira, na varanda
E na janela era grande o barulho da chuva
Eu fiquei maluca

(linda música de Luis Capucho, na voz de Cássia Eller)


Que toda mulher gosta de rosas, a canção está aí mesmo a nos lembrar. É o segundo melhor presente que adoramos ganhar. Em primeiríssimo lugar, absoluto, estão os diamantes, claro, que ninguém é de carvão.

Sou alucinada por flores – quando recebo, é momento que me deixa, realmente, nervosa. E feliz, como com nenhum outro presente (já tenho tantos solitários, à maneira de Hebe Camargo, que uns vão fazendo companhia aos outros, se distraem entre si, e me liberam para me emocionar com mais orquídeas, colombianas, copos de leite...).

E não acredito que alguém nesse mundo, com sensibilidade grau 0,1, possa ter algo contra essa explosão de cores que a natureza tão prodigamente nos oferece.

Destarte, não consigo entender porque elas se encontram, invariavelmente, fora de todo e qualquer projeto de paisagismo urbano. Não estão nos parques, nas praças, nas entradas dos edifícios...

Se colocarmos alguém vendado na frente de um dos luxuosos prédios da Delfim Moreira e pedirmos que abra os olhos, certamente afirmará estar em uma região semi-árida. Abundam vegetações agrestes, até cactus (com todo o respeito a eles) despontam imponentes dos canteiros, onde estou sempre à cata de alguma delicadeza, uns tons de violeta, amarelo.

Gente, vasinhos nas janelas deixam lindos os prédios mais velhinhos, mais feinhos. Isso é tão comum lá fora...

Um ambiente, uma sala, com uma flor que seja, irradia e inspira vida, criação, renovação. Adoça a alma. Numa mesa para um jantar bacana, cheio de afeto, não é só comida e vinho que se harmonizam. Uma florzinha é o detalhe que muda tudo.

Vós, que sois síndicos, presidentes de associações de moradores e/ou tendes amigos na imprensa, valei-nos: clamemos por mais flores em nossos dias.

domingo, 18 de outubro de 2009

Existirmos, a que será mesmo que se destina?



Não digas: “o mundo é belo”.
Quando foi que viste o mundo?
Não digas: “o amor é triste”.
Que é que tu conheces do amor?
Não digas: “a vida é rápida”.
Como foi que mediste a vida?
Não digas: “eu sofro”.
Que é que dentro de ti és tu?
Que foi que te ensinaram
Que era sofrer?

(Cecília Meireles)


Ah, como foi que mediste a vida?...Sempre me intriga quando alguém declara, em tom de orgulho: "Tenho 40 (ou 51, 64, 79, 203) anos". E mais que depressa completa: "Muito bem vividos". Tenho para mim que não se vive bem ou mal (não falo pelo prisma material, por suposto): vive-se, simplesmente. O que já é coisa pra caramba, convenhamos. Bem e mal podem ser conceitos bastante relativos, subjetivos. Até porque estou convencida de que - salvo em casos de autossabotagem crônica - damos o melhor de nós em quaisquer dos momentos vivenciados. Ah, eu poderia ter feito melhor...Não, não poderia. Tanto que não o fiz. Naquelas dadas condições, com os recursos mentais, emocionais, psicológicos, espirituais e materiais, enfim, com o conjunto de circunstâncias específicas daquele instante, só fiz o que pude fazer. E foi o melhor, mesmo que impregnado de equívocos, sofrimentos, maluquices.

A tese não se destina a justificar a infinidade de erros cometidos ao longo do caminho. Mas para identificá-los - e tentar corrigi-los - existem a consciência e a disposição interior sincera de querer burilar a própria persona, intensificar a busca do que realmente importa. Culpas e arrependimentos por si só, sem ação que os convertam em luzes, nos levam nenhures. Antes (tentar reconstruir) tarde do que tarde demais. É uma luta feroz repelir a autocondenação, por inerente à cultura humana. Mas há que se travá-la, sob pena de sucumbirmos a sua sombra. Estagnante.

A impressão que me dá é de que com esse pequeno complemento - o "bem vividos" -, o ser, defrontado com a finitude, parece buscar desesperadamente a remissão por envelhecer na confirmação (para si? para os outros?) de uma pretensa vida "muito bem aproveitada".

Mas de que, afinal, está se falando com "aproveitar a vida"? Com esses "bem vividos"? Significarão que a criatura em questão torrou fortunas em cassinos transatlânticos? Teve todas as mulheres/homens do mundo? Acumulou um patrimônio financeiro sólido? Aprendeu oito línguas, sem contar o javanês? Moveu céus e terra no afã de saciar uma saudade que teimava em arder, carburar, por entender, enfim, que não adianta tentar tirar da cabeça o que não se consegue tirar do coração? Formou uma família de comercial de amaciante lavanda? Conheceu o Oriente Médio? Fez o Caminho de Compostela? Experimentou os esportes mais radicais? Esteve constantemente atento aos sinais de alegria e, sobretudo, de dor do outro? Velejou em ilhas paradisíacas? Dedicou os anos a sonegar o fisco? Amou com entrega absurda? Jantou todas as noites no Antiquarius? Reviu conceitos? Laborou em ações de responsabilidade social? Logrou ser o mais esperto entre seus pares? Lutou verdadeiramente por seus ideais - que expressão demodé, mais ainda que a própria demodé? Entendeu - e os fez - que amigos são o grande e inalienável bem da vida? Plantou uma árvore, escreveu um livro, teve ou adotou um filho?

Afinal, o que pretendem sofregamente sinalizar com isso? O fato é que, sem querer entrar em juízo de valor - e mais do que nele entrando -, quem eu consideraria capaz de contabilizar brilhantemente anos "bem vividos" nunca nem sequer ousou pronunciar tamanha temeridade. São os que, penso eu, vivem para entender, transformar e engrandecer a vida, em nosso planeta, nosso país, nossa cidade, nossos dias.

Bem sei que vós, que sois gentis, podeis, em socorro dessa gente, ponderar que o tal do "bem vividos" refere-se ao ponto de vista de quem fala. Ah, mas nesse caso, que eles façam a fineza de acrescentar tal apêndice ao final de suas declarações. Criaturas obtusas precisam de tudo explicado nos mínimos detalhes. Porque, solta, a expressão "bem vividos", para quem tem dificuldade de abstração como eu, significa, simples, e rigorosamente, nada.

Onde chegarei nessa busca por lapidar minha procura toda? Aqui: http://www.youtube.com/watch?v=lRGMJiB6O8o.



terça-feira, 6 de outubro de 2009

Leila Pinheiro & os Caruso



Caros,






Convidamos para a nova edição da


Revista Carioquice  



 
                                                                                   http://www.carioquice.com.br/

A capa é com João Moreira Salles (por Vera de Souza). Eu vou de irmãos Caruso (fotos de Marcelo Carnaval) e Leila Pinheiro (fotos de Adriana Lorette), ambas com links em Matérias Mais Recentes.

Temos também os saraus do Instituto Ricardo Cravo Albim (Kelly Nascimento), a história do Aeroporto Santos Dumont (Julia Santhiago), um perfil de Victor Biglione (por minha xará, Monica Ramalho) e o ensaio fotográfico Costa Azul do Rio (de Marcelo Carnaval).

Saudações cariocas, paulistas e paraenses.

domingo, 4 de outubro de 2009

Que mistérios tem Clarisse






Nesse momento de grande alegria para nós brasileiros, principalmente os cariocas, gostaria de enaltecer mais coisas belas que o país e o Rio têm. Hoje, vou de música.








Clarisse Grova, carioca,
é a maior cantora do Brasil.

Para mim. E para muitos que realmente entendem de música, o que não é o meu caso. Certa vez, escrevi para The Voice que, em verdade, não havia a melhor cantora (ou cantor) do Brasil. Nem o melhor médico. Nem o melhor desenhista, ou cabeleireiro, ou mecânico, ou jornalista. O que existe é um perfil de profissional que, a nossos olhos, chegam mais perto de nossos desejos. Nesta perspectiva, apesar de, evidentemente, admirar outras cantoras, Clarisse, à minha percepção, é a mais perfeita em timbre, afinação, extensão, dicção e...emoção.

O mundo da música foi desde sempre extraordinariamente presente em mim. Em casa, ouvíamos de tudo: de Elis a Dick Farney, de Martinho da Vila a Bach, de Yes a Roberto Carlos, de Tito Madi a Nina Simone, de Bethânia a Bizet. Meu pai, médico, era um apaixonado por música, sempre muito aberto a novidades, se interessando tanto pelo software quanto pelo hardware. Não sei quem entre os meus amigos ouvia som quadrifônico em suas residências. Eu ouvia. Isso agora é poeira, mas na era mesosóica em que adolesci, som quadrifônico - surround dos seventies - era moderno pra caramba. Poder ouvir os instrumentos isoladamente nas 4 caixinhas...Se não me engano, The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, foi o primeiro disco a utilizar este sistema de reprodução sonoro.

Lembro de uma tarde, na saída do curso Oxford, em Ipanema, em que fui numa loja de discos importados que havia se instalado em frente. Sim, sou da época em que os lançamentos internacionais levavam séculos para cruzar os oceanos. E aos que não tinham paciência para esperar tanto, só restava recorrer à importação. O rapaz da loja - pálido, cult -, quando me viu, mandou: "seu pai esteve aqui hoje e comprou o Curved Air". Curved Air ??? Pelas madeixas de Rick Wakeman, desta vez Dr. Sylvio havia se superado. Nem eu, aficionada por rock progressivo, fazia leve ideia do que se tratava. Cheguei em casa: "mas que história de Curved Air é essa???" Era um som estranhíssimo, progressivo com...violinos!

Enfim, tudo isso para dizer que, sem jamais ter tido uma única aula de teoria musical, cresci escutando do bom e do melhor, sem distinção de gênero ou nacionalidade. Ouvia música o tempo todo, comprava discos e via shows sem parar. Aquele mágico universo me formou - e encantou - a ponto de me levar a trabalhar durante um bom tempo em torno dele.

Hoje, sobretudo se comparado ao que fazia, ouço música com extrema parcimônia. Porque ela está, de forma massacrante, em todo lugar: no táxi, no carro e na casa dos amigos, nos elevadores, nas lojas, nos consultórios, nas praias, wherever. Virou barulho, não fruição. Musak not music. Interditaram o silêncio. Tão fundamental para que se escutem as sonoridades sublimes.

Dada à formação eclética, sigo, a depender do momento, adorando ouvir tanto os noturnos de Chopin quanto "Impossível acreditar que perdi você", com Jerry Adriani. Porque é a música, sempre ela, nos tocando em profundidade os sentidos, memórias, alegrias e dores.

E, quando quero encontrar sua expressão mais vigorosa, comovente, avassaladora, misteriosa, como abençoada força da natureza, não dá outra: é Clarisse Grova na veia. A voz mais bonita que existe. De uns tempos pra cá, também compondo o fino.

Por isso, queria destacar aqui a Oficina da Voz Clarisse Grova (http://oficinadavoz.ning.com/), favoritíssima desde o primeiro momento nesta padaria. Viajem na companhia de quem sabe tudo sobre esse inesgotável, fascinante, transcendental planeta de sons.

Viva o Rio! Viva a arte!


  Clarisse Grova