terça-feira, 25 de maio de 2010

Águas correntes



chuva de amar
na tarde lenta
ventos
de arrumação
e de desarmar
os corpos tensos

chuva de aproximar
os sentimentos
e de infiltrar a casa
dos pensamentos abissais

que marquises construímos
para proteger nossos animais
um secando o outro
querendo abrigo e buscando a fuga
do que o desejo enjaula

chuva de machucar
por tanto afastamento

e de limpar
atmosferas
até chegar
ao inescapável instante
de transbordamento

 

Em tempos de lua que se expande, em secretos movimentos, deixo e bela "Luz e mistério" (Caetano Veloso e Beto Guedes), com Dado Villa-Lobos e Lia Galdino:





segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mergulhos


Mergulho em profundidade no livro "A literatura na poltrona", de José Castello, em estado de climatização total para entrevistá-lo. Escreve ele a propósito de sua formulação sobre a imagem do jornalismo: "Ser capaz de ouvir, de suportar a presença imprevista do outro, as surpresas que nos oferece, a desarmonia de suas ideias. Chegar de mãos vazias e aceitar o que me dão. Entregar-me, em vez de esperar que o outro se entregue. Desarmar-me, ainda que seja para encontrar o que não desejo encontrar".



Mais belezas dele:


"Para que alguém lê um livro, senão para se transformar?"


"O que me sufocava era a sua liberdade."


"Cada um lê com o que tem, lê com o que é, lê como pode. Não existe leitura perfeita, nem completa; muita coisa, mesmo para os leitores treinados, sempre fica de fora".

Sobre o que Castello chama de "zoeira do século 21":

"Uma agitação que não se move. Deter-se nesses movimentos de superfície é, na verdade, não sair do lugar."


"Vemos quase sempre em excesso - o que é o mesmo que não ver".



"São esses escritos extraordinários que nos lêem e nos decifram. São eles que nos arrancam de nossos sonhos e ilusões, onde estamos imobilizados pela rotina e pela preguiça, para nos confrontar com o grande rombo, o grande escândalo da vida, desordem que a palavra sintetiza, metaforiza e carrega. Para que possamos chegar àquele osso das coisas que, em um texto dos anos 1970, Caio Fernando Abreu assim descreveu: `Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro`. O naufrágio, a tempestade: é a literatura".
 


Por falar em mergulho, as imagens desta postagem chegam da Roberta Lenzi, a coragem em pessoa, diretamente das profundidades (30 metros!) das águas de Salvador. Beijo, querida.

Deixo, ainda, um outro mergulho: "Ventos de paz", de (e com) Leila Pinheiro e Jorge Vercillo.
 
"Ao mergulhar no seu olhar sereno
Reencontrei rastros do que vivemos".


terça-feira, 4 de maio de 2010

O que segue

Clube Marimbás - domingo     

- Mas eu não quero ir parar no meio de gente maluca - observou Alice.
- Ah, não adianta nada você querer ou não - disse o gato. Nós todos somos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.
- E como é que você sabe que eu sou louca? - perguntou Alice.
- Bem, dever ser - disse o Gato - ou então você não teria vindo parar aqui.

Li a maravilhosa edição de "Alice no país das maravilhas", com tradução de Nicolau Sevcenko e ilustrações lindas de Luiz Zerbini. E vi o filme em 3D no Roxy.

Iniciei a leitura de "Confidencial", de Constanza Pascolato. Segue o trecho: "Desde cedo, criança ainda, eu queria fazer tudo ao contrário para descobrir como seria. Ou pelo menos para saber se podia ser de outro jeito. Não o contrário pelo contrário, mas pela procura de alguma coisa a mais. Isso me fez uma pessoa infeliz durante muito tempo, porque a energia, o entusiasmo e a curiosidade que tenho sempre foram maiores do que o medo de ser julgada e rejeitada, o que foi inevitável em muitas ocasiões".

Comprei "Precisamos falar sobre o Kevin" (Lionel Shriver) e mergulho - radiante - em pesquisas sobre o universo do maravilhoso José Castello, escritor e colunista do Prosa&Verso, do Globo, para entrevistá-lo para a próxima Carioquice.

E ouço DNA, novo CD de Jorge Vercillo, que traz a deslumbrante "Memória do prazer", com ele e Ninah Jo.
"Penso em você
É uma canção
Que eu não consigo esquecer
Penso em você
E é o livro
De um amor que não se lê"