quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O poeta que mora na filosofia

 Antonio Cicero


A capa da nova Carioquice é com o poeta e filósofo Antonio Cicero. Foi na maior alegria que recebi essa pauta. Com Marina, ele compõe uma das minhas principais trilhas sonoras. Agradecendo imensamente ao gentilíssimo Cicero, por todas as belezas que produz e, em especial, pela entrevista, deixo o link para a matéria. Como assina o poeta, "todo amor vale o quanto brilha":


E suas lindas e desconcertantes canções:

- Três, com a música vertiginosa de Marina: Eu quero tudo que há/ O mundo e seu amor/ Não quero ter que optar/ Quero poder partir/ Quero poder ficar (http://letras.terra.com.br/marina-lima/761580/

- Logrador, com Orlando Morais, na voz de Bethânia: Você habita o próprio centro / De um coração que já foi meu / Por dentro torço pra que dentro / Em pouco lá só more eu (http://mp3skull.com/mp3/logrador.html)

- Próxima parada, com Marina: Eu sei onde é que estão as coisas doces da estrada / Você também / E se a gente se encontrar na próxima parada / Aí meu bem, vamos mostrar / Que a única morada de um homem está no extraordinário / Feroz é a nossa fome, feroz nosso céu / E o fogo que nos consome / Consuma esses medos seus (http://letras.terra.com.br/marina-lima/88210/)



 Marina - Climax - Vivo Rio - Agosto


- 2 livros esplêndidos, escritos por José Castello: O poeta da paixão, sobre Vinicius de Moraes; e O Homem sem alma, sobre João Cabral de Melo Neto.

- 2 expos: No CCBB, a fantástica mostra sobre Miles Davis (com fotos incríveis, áudios, vídeos, roupas, quadros e instrumentos da coleção dele). E, no Centro Cultural dos Correios, desenhos e quadros de Di Cavalcanti.

- 2 filmes: Melancolia e Um conto chinês.

                                                          Cinépolis - Lagoa

- 2 músicas:

Cacos de amor (de Luiza Possi e Dudu Falcão), na emocionante interpretação de Luiza e Zizi Possi (http://letras.terra.com.br/luiza-possi/1878310/)

Feito pra acabar (de Marcelo Jeneci, Paulo Neves e Zé Miguel Wisnik), com Jeneci (http://www.youtube.com/watch?v=8yJpLc5tIP4)


- 2 entrevistas:

- A impressionante entrevista com Clarice Lispector (raridade de áudio e imagem ao vivo da escritora), feita no ano de sua morte (1977):

Parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=9ad7b6kqyok&feature=share
Parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=TvLrJMGlnF4&feature=related
Parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=ZVwj3pHAi_s&feature=related
Parte 4: http://www.youtube.com/watch?v=TbZriv5THpA&feature=related

Entrevista com Benjamin Moser, biógrafo de Clarice:
http://www.youtube.com/watch?v=Yj4nb50aOZs&feature=related


 Vista do Térèze, Santa Teresa 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O escafandrista no abismo de Clarice

 

Fotos: Roberta Lenzi e Érika Guimarães - Machu Picchu

Para mergulhar no "abismo de Clarice Lispector", curso que acabo de fazer com o escafandrista literário José Castello (escritor e colunista do caderno Prosa&Verso do Globo), na Casa do Saber, me entreguei sem rede de proteção - não há outro alternativa- à re-re-releitura do universo dessa escritora impossível.

Escafandrista literário foi uma expressão que me ocorreu para referência (sem que se precise de alguma) a Castello - a quem entrevistei para a Carioquice (http://www.carioquice.com.br/upload25/25/05.pdf), que recusa o rótulo de "crítico" de Literatura.

Tampouco o que Castello publica em sua coluna (imperdível!) aos sábados se acomoda à categoria formal de "análise literária": não é investigação acadêmica de fundamentos linguísticos, nem uma apreciação clássica de estilos ou coisa que o valha.

O que ele escreve no jornal (e também em seus livros) é de outro reino, tão revolvente, visceral e indefinido, que, por aproximação, o percebemos em Clarice: ela era escritora, filósofa...era o que, afinal? A melhor definição (novamente, sem que se imponha uma) que já vi: "Ninguém escreve como ela. Ela escreve como ninguém".

Castello, também jornalista, é o que, afinal?

Como precisamos, desesperadamente, enquadrar os outros - sobretudo os incabíveis!


Vou, assim, atrás de pegadas - antigas e fescas - em:

Perto do coração selvagem, o primeiro livro de CL, que, aos 17 anos de idade, fulminava: "Que se fuja - e nunca se estará livre". Com 17???

Na sequência, Água Viva: "Que estou tentando eu ao te escrever? Estou tentando fotografar o perfume"..."Não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. Eu sou uma cadeira e duas maçã. E não me somo"..."O que é que na loucura da franqueza uma pessoa diria a si mesma"?

A Paixão segundo GH: "Quando se realiza o viver, pergunta-se: mas era só isto? E a resposta é: não é só isto, é exatamente isto"..."Pois prescindir da esperança significa que eu tenho que passar a viver, e não apenas a me prometer a vida"..."Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão, pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante"..."Pela primeira vez eu me espantava de sentir que havia fundado toda uma esperança em vir a ser aquilo que eu não era."

Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres: "Ser tão protegida a ponto de não recear ser livre"..."Ah, então é verdade que eu não imaginei: eu existo."

"Mas olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Temos amontoado coisas e seguranças por não termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que já não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa.Temos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia".

"Eles pareciam saber que quando o amor é grande demais e quando um não podia viver sem o outro, esse amor não era mais aplicável: nem a pessoa amada tinha a capacidade de receber tanto".

"Não se enganava a si mesma: era possível que aqueles momentos perfeitos passassem? Deixando-a no meio de um caminho desconhecido? Mas ela poderia sempre reter nas mãos um pouco do que agora conhecia, e então seria mais fácil viver não vivendo, mal vivendo. Mesmo que nunca mais fosse sentir a grave e suave força de existir e amar, como agora, daí em diante ela já sabia pelo que esperar a vida inteira se necessário, e se necessário jamais ter de novo o que esperava. Moveu-se de súbito na cama, porque foi insuportável imaginar por um instante que talvez nunca mais se repetisse a sua profunda existência na Terra".

Para mim, Castello é o escafandrista que, com sua lanterna, ao contrário de apontar para um único - e seguro - caminho, ajuda a iluminar atalhos, na perigosa descida às profundezas e aos labirintos escuros que a Literatura espalha, às vezes com delicadeza, por outras, violentamente. Sempre a exigir entrega total.

Trilha sonora: "Eu sei que vou te amar" (Tom e Vinícius), com Caetano Veloso:
http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/187300/


E o presente delicado da Ana Lúcia:
 

 

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Fruições - pupilas e papilas

  
Venga Ipanema


- Imperdível a exposição "Saul Steinberg: As aventuras da linha", no Instituto Moreira Salles.

- Também a de Chico Buarque, no Espaço Tom Jobim (Jardim Botânico).

- O maravilhoso site http://www.jobim.org/acervo/acervodigital.html, em que se pode acessar não só todo o acervo de Tom Jobim, mas o de Chico Buarque e o de Caymmi.

- "Tatyana", de Debora Colker. Vi no Teatro Municipal, mas, como, em geral, os espetáculos dela voltam ao cartaz em outros espaços, é só ficar atento.

- Na cabeceira: uma biografia de Van Gogh por David Haziot e "A Educação Sentimental", de Flaubert.

- E - uh la la! - o perfil de Luciana Fróes, a super crítica de Gastronomia do Globo, que fiz para a revista Carioquice, no link: http://www.carioquice.com.br/pdf/mat_123.pdf

 Inspiradas livremente na matéria com a Luciana, imagens para dar água na boca. Voilà...




                                 Astor                                                                                  Nam Thai

Champanheria Copacabana

                           Salitre Ipanema                                                               Azul Marinho

Stuzzi



quarta-feira, 30 de março de 2011

Touche pas à Maria Bethânia!


Estarrecedor. É o mínimo que posso pensar a respeito de toda essa polêmica envolvendo Maria Bethânia. Por má fé ou, simplesmente, deplorável ignorância, ela está sendo exposta a uma sandice inacreditável.

Para resumir, Bethânia não recebeu R$ 1,3 milhão do Minc. Esse valor corresponderia ao total da realização de 365 vídeos para um blog - um por dia - em que ela recitaria poemas em língua portuguesa. E para ser captado em empresas, sob os dispositivos de incentivos fiscais previstos na Lei Rouanet. Ou seja, dentro da total legalidade jurídica.


Então, vamos lá:

1. Pelo que entendi, a ideia desse projeto (blog) partiu de Hermano Vianna, com quem Bethânia já vinha desenvolvendo o trabalho de dizer poemas em pequenos teatros (iniciativa que começou na Universidade Federal de Minas Gerais, se não me engano). 

2. Diante da proposta de ampliar esse trabalho de formiga a um blog, Bethânia deve ter dado seu preço - R$ 600 mil pelo ano, ou R$ 50 mil por mês, como vem sendo divulgado. Ela dá o valor que quiser, e qualquer montante que pretendesse estipular estaria sempre, sempre, a milhões de léguas do que lhe faria jus.

3. Alguém, em sã conciência, acha que Bethânia precisa de R$ 600 mil? Em caso positivo, não seria tão mais fácil, prático e rápido para ela fazer uma única propaganda de cerveja por ano?

4. Bethânia tem sido, desde sempre, uma intensa e maravilhosa difusora de poemas e textos escritos na última flor do Lácio (isto porque nem cabe entrar, aqui, na recuperação e valorização de nossos compositores esquecidos ou desconhecidos). Descobri (eu e zilhões) Clarice Lispector por causa dela - três anos antes de o meu colégio "mandar" ler "A paixão segundo GH", em 1976. Até os sinos da Sé de Braga sabem que Bethânia é a grande responsável pela propagação da obra de Fernando Pessoa no Brasil. Até Portugal reconheceu, oficialmente, isso. E alguém aí pode apontar quem leia poesia - tarefa absurdamente ingrata - como ela? Bethânia é capaz de transformar "batatinha quando nasce..." em matéria transcendente.

5. Se fosse apenas por esse "pequeno detalhe", já deveríamos agradecer a ela por todos os séculos, pelo tanto que, sozinha - sem o apoio de nenhuma política oficial na área de educação -, incentivou a leitura de autores tão magníficos. Isso, no Brasil, não é pouco e não é para qualquer um. Mas, Bethânia, é tão e tão mais: é um fenômeno torrencial, avassalador. Uma artista que construiu uma carreira deslumbrante e impecável, ao largo de concessões e de exposições públicas tolas.

6. Se a questão é discutir o conteúdo da Lei Rouanet (se funciona a contento ou não, frente aos interesses da sociedade brasileira, se precisa de ajustes ou se deve meramente ser extinta), que o façam a tempo e a hora: governo, empresas, produtores, artistas, sociedade civil, enfim, os agentes envolvidos. O que estão esperando? Mas quanta infelicidade pegar logo quem como exemplo de malversação dos dinheiros públicos. Que eu saiba, é a primeira vez que chega à imprensa, ao menos com tamanho estardalhaço, a discussão sobre a validade da simples aprovação de captação de recursos em empresas para um projeto dentro da Lei Rouanet. Por que nunca apontaram outros antes, se jorram aos montes e há anos? Este, ao longo do tempo, foi o único capaz de suscitar tal celeuma?

7. Ter um blog dessa natureza, com Maria Bethânia, encheria de orgulho qualquer país do mundo. Ainda que as verbas saíssem diretamente do invisível orçamento do Minc, e não de renúncia tributária. Ah, senhores, como são bem empregados nossos impostos em todas as áreas de competência governamental, não?

8. Que a mediocridade tenha vergonha de ousar tocar quem personaliza seu antagonismo.  

9. Para os, verdadeiramente, interessados em discutir a Lei Rouanet, as vias democráticas estão todas aí.

10. Maria Bethânia, tu és para mim a senhora do engenho. Do engenho da poesia, da música, da arte, da cultura. Do Brasil com que eu sonho. Intocável.


Mudando de ares, deixo links para as matérias que fiz para a edição que acaba de sair da revista Carioquice:

Príncipe D. Joãozinho de Orleans e Bragança

Livro "O Círculo Veloso Guerra e Darius Milhaud no Brasil", escrito por Manoel Corrêa do Lago, sobre o início do modernismo musical na terra de Santa Cruz.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

o mundo de dentro - e a vida lá fora

Pico da Bandeira: foto por Roberta Lenzi 


"A literatura é capaz de transformar o seu mundo?" A questão está posta em mais um dos tocantes artigos da jornalista Eliane Brum, em seu blog na Época, que pode ser lido em:


A mim, pelo menos, a resposta é sim, a literatura é sempre capaz de transformar o meu mundo. A viagem sem volta começou lá atrás com "Peter Pan", de Monteiro Lobato, e, no momento, percorre o corajosíssimo e comovente "Ribamar", de José Castello, em torno das relações com seu pai. Fui a nocaute, é o que posso dizer. Sobre a literatura, nosso tema em questão, Castello escreve no livro: "...eis uma palavra que, em vez de apontar um caminho, desponta um abismo". Céus...

Outra viagem maravilhosa faço no "Trem noturno para Lisboa" (Pascal Mercier). Trecho:"Será que tudo o que fazemos é pelo medo que temos da solidão? Será por isso que abrimos mão de todas as coisas das quais nos arrependeremos no fim da vida? Será por isso que tão raramente dizemos o que pensamos? Se não for por isso, porque é que insistimos em todos estes casamentos falidos, nas amizades hipócritas, nas tediosas festas de aniversário? O que aconteceria se rompêssemos com tudo isso, se acabássemos com a chantagem insidiosa e nos assumíssimos como somos? Se deixássemos irromper como uma fonte os desejos escravizados e a raiva pela sua escravidão? Pois em que consiste a solidão temida? No silêncio das admoestações que deixam de ser feitas? Na falta de necessidade de se esgueirar, sem respirar, pelo campo minado das mentiras conjugais e das meias verdades complacentes? Na densidade do tempo que se abre quando emudece o tiroteio de convites e combinações com os outros? E tudo isso não serão coisas maravilhosas? Não seria um estado paradisíaco? Por que, então, o medo? Será que, no fim das contas, é um medo que apenas existe porque não refletimos sobre o seu objeto? E por que estamos assim tão seguros de que os outros não invejariam se vissem como cresceu a nossa liberdade?".

Navego, também, por "Um erro emocional" (Cristovão Tezza) e "O Círculo Veloso-Guerra e Darius Milhau no Brasil", de Manoel Corrêa do Lago, sobre o modernismo musical no Rio de Janeiro antes da Semana de 22 (elegantíssima edição da Reler).

Nas telas, o bacana foi conhecer o Cinépolis, complexo de salas na Lagoa, onde vi "O Concerto" (final arrebatador em http://www.youtube.com/watch?v=zvR6qaMmBOE). Ah, o poder assombroso da música...E o local ficou ótimo, a vista é deslumbrante, dá pra ir de carro, a pé, de bicicleta...e, depois, esticar num quiosque (eu fui no Café do Lago).

Deixo os links para minhas matérias na Carioquice sobre Noel Rosa (http://monicasinelli.hdfree.com.br/noelrosa.pdf) e Sergio Porto (http://monicasinelli.hdfree.com.br/sergioporto.pdf).  

Pois, é. Viver é (também) escolher o tempo todo. Que possamos ter paixão por nossas escolhas.


A música é a emocionante "Universo no teu corpo", de - e com - Taiguara: