sábado, 26 de setembro de 2009

Viva a physalaemus soaresi! E o Executivo, o que é?


(Reprodução O Globo)


População aplaude morte de bandido por PM.

Dilma Rousseff: "Homens não assumem suas posições. Participo de um governo no qual nenhum homem é assertivo. Sou uma mulher dura, cercada de homens meigos, mas já me conformei".

..."E Ciro diz que Serra é feio".

É engraçadinho isso, é? Puxa vida, ando num mau humor que só vendo...Sabe que não consigo achar a menor graça nessas manchetes do Globo de hoje? Sobre a primeira, sem comentários. A que ponto chegamos: bater palmas para mais um lastimável espetáculo em cartaz na cidade. Bater palmas para nossa crônica falta de segurança nas ruas.

Quanto à segunda, aguardo com ansiedade a manifestação dos rapazes do Executivo. Não vejo a hora em que venham a público rebater a estarrecedora declaração proveniente da principal Casa do governo. Cavalheiros, lustrem seus brios: invoquem ao jornal o soberano direito de resposta. Repetindo: "Participo de um governo no qual nenhum homem é assertivo". Ai, ai, ai...Será que li direito? Ela disse "nenhum", meus compatriotas. Não quero ser desagradável, mas, por esse raciocínio, o petardo não livra nem o presidente da República. Além do que, a ministra subverte o conceito de "meigo", coisa que em geral se percebe como bela qualidade.

Desconfio de gente dura. Lembram-se daquela senhora que não dava um sorriso ao chegar ao comando do mais importante ministério brasileiro e daquele seu patrão com olhar colérico - e, perturbadoramente, de volta - em 1990? Por trás da sisudez e da fúria, o ardiloso plano de confisco da poupança. Mas, sei não, aindo prefiro o estilo original pré-campanha de DR - que chegou a provocar lágrimas no presidente da Petrobras -, a constatar que ela tenha resolvido adotar a mesma cartilha de tiradas inacreditáveis do supremo comandante da nação.

Não vai ser com essa plataforma que Dilma, com ou sem pós-graduação, conquistará meu voto: não idealizo como CEO do meu país alguém que se conforma com situações que, querendo, pode muitíssimo bem mudar. Eu, se trabalhasse com homens que não assumem suas posições, não me conformaria. Pegava minha trouxa e ia plantar batatas doces e meigas em Bofete, ter aulas de canto com Clarisse Grova, aprender pintura em porcelana, visitar minha tia...sei lá, tanta coisa boa pra fazer nessa vida ao lado de gente bacana e que assume suas posições, né, Lina Vieira?

E, se na linha de frente da gestão pública, não me conformaria com o fato de que, dos atuais 10,6 milhões de pessoas entre 15 e 17 anos, só 48% estejam no Ensino Médio. Nem com o indicador de que o desemprego entre a juventude que essa brisa canta - segundo a PNAD de 2007, 61,4% do total no Brasil - atinja o triplo do registrado em outras faixas etárias. De conformação em conformação, vamos, deprimentemente, aplaudindo a morte de brasileiros, honestos e bandidos. Além de resignar-se em ter homens meigos a sua volta, a quanto mais a atual chefe da Casa Civil, se eleita presidente, continuará se conformando?

E Ciro Gomes? Além do penoso conteúdo de ideias para criticar o colega José - "feio pra caramba, mais feio na alma do que no rosto", decretou o Brad Pitt de Pindamonhangaba radicado em Sobral -, com quem divide a ambição de ocupar uma certa cadeira no planalto central, merece o troféu de originalidade zero. Apenas replicou o que Carlos Lacerda dizia do marechal Castelo Branco, a quem chamava de "girafa de porão, mais feio por dentro do que por fora".

Ah, sabe o que mais? Melhor me conformar. Dá menos trabalho. Vou assistir ao documentário da Patricia Pillar sobre Waldick Soriano, comendo pipoca com vitamina de banana. Depois, ouvir o canto nupcial das pererecas no site do Globo. Esta foi a notícia bonitinha do sábado: "Perereca para principal obra do PAC no Rio", o Arco Metropolitano, solução logística que impulsionará ainda mais o comércio exterior do B dos Brics. Eis aí um grande feito do programa. 

Prometo me esforçar para - incansavelmente me inspirando no comportamento dos mentores que cercam a ministra - ser mais meiguinha. Da próxima vez que eu for a Brasília, trago uma flor do cerrado pra vocês, queridos. 

Baideuêi, resultado da enquete anterior sobre o sistema de partilha do pré-sal: o grande vendedor foi Ih, o bombeiro hidráulico tá tocando o interfone, com 47% dos votos.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Domingo no parque










Adoro o Instituto Moreira Salles, no alto da Gávea. É um parquinho de maravilhosas diversões. Domingo pela manhã, fui com Isabella ver a exposição de quadros de Clarice Lispector. Lá, está também a primeira restrospectiva de fotos de Robert Polidori na América Latina. Não há o que dizer.    Arrebatadoramente i-m-p-e-r-d-í-v-e-l.

Na sequência, almoço no Zuka do Leblon. Muitas provinhas de paladares variados enquanto a tarde caía cinza. Em torno de um chandon rosé, que ninguém é de ferro. E um cheescake mirtilho que...A vida é muito bela, senhores. Vamos de poesia:

Comigo me desavim,
Sou posto em todo perigo;
Não posso viver comigo
Nem posso fugir de mim.

Com dor, da gente fugia,
Antes que esta assim crescesse:
Agora já fugiria
De mim, se de mim pudesse.

Que meio espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo,
Pois que trago a mim comigo
Tamanho inimigo de mim?

Francisco Sá de Miranda

Camaradas, recebi da super jornalista Kelly Nascimento este lindo link: http://www.eldogma.com.ar/flyers/diaprimavera/default.asp. Vale a pena ver.
É a prova cabal de que muita coisa boa pode acontecer, né Nascimento?

Recomendo, com entusiasmo, o blog 5 estrelas O olhar é uma isca, de Ana Paula Bousquet (http://anapaulabousquet.blogspot.com/).
É lindo, uma viagem e tanto ao mundo da beleza.
No momento, com textos do escritor Antonio Torres sobre poesia.
Se eu fosse você, respirava fundo e mergulhava naquele mar sem fim de ideias.

domingo, 20 de setembro de 2009

Rodadinha e disco voador







Sábado, uma da tarde, padaria a toda. Liga minha amiga Ana Paula. Tinha acabado de montar e, por conseguinte, também fome. Achei que o estabelecimento jornalístico merecia uma pausa refrescante, após funcionar 14 horas seguidas na sexta-feira.

Fomos ao Mok, no Leblon. Enquanto conversámos, aborrecidíssimas, em torno de uma caipirinha de morango (não vou dizer o restante da composição do drink, porque é muita coisa, quase um bufê) e crispies de lula tailandeses e chutney de manga (deliciosos), eu observava o movimento no Esch Café, ao lado. Lembrei da única vez em que estive lá, ano passado, para entrevistar a sommelier Deise Novakoski.

Naturalmente, tivemos um vinho como escolta. Escolhido pela mestra, claro. A conversa fluía, adorável papo, e eu a esperar com ansiedade o momento em que ela iria, pela primeira vez na noite, dar uma rodadinha no copo. Sim! Eu ali, ao lado da doutora, finalmente, teria a privilegiada chance de aprender o momento exato de...dar a tal rodadinha no copo pela primeira vez numa noite diante de outrem. Como iria impressionar os amigos dali por diante! E a conversa fluía, fluía...eu ali, firme, ouvindo com atenção as histórias deliciosas que a Deise contava, mas, diligente, esquadrinhando todos os movimentos da mão dela. Para minha decepção, espanto ou alegria, esse momento - da rodadinha - nunca chegou.

Logo depois da entrevista publicada, por coincidência, fui almoçar com um cliente no Eça, restaurante em que Deise trabalha. Ele contou um episódio que adorava relembrar: um jantar profissional que tivemos em SP, em que um dos integrantes fazia malabarismos incríveis com seu copo de vinho. Girava-o na superfície da mesa, cheirava-o, suspendia-o em movimentos contra a luz numa intensidade tal que eu, polidamente, tentava me esquivar para não receber respingos rubros na minha roupa. Deise, com aquela simplicidade demolidora de quem sabe tudo de seu ofício, ouviu o relato e mandou: "Ah, quando é assim, digo logo que estou de ressaca e que isso vai me deixar mais zonza ainda!"

Que coisa mais enfadonha está se tornando essa mania de rodar os copos por aí. E agora vale para qualquer substância em estado líquido, de cerveja a água mineral sem gás. Claro que Deise roda seus copinhos. Mas com tanta sutileza que ninguém percebe.

Voltemos à Ana Paula. Um foto sua foi selecionada, entre outras 15, para a exposição do Disco Voador (lembram daquele projeto promovido pela Open Art Projects aqui no Rio?) no Oi Futuro, que inaugura sexta-feira agora e vai até 25 de outubro. Vamos lá? A foto de AP é essa linda aí em cima. ttp://www.openartprojects.org/ e http://www.discovoador.art.br/

Baideuêi, resultado da enquete: o candidato vencedor foi o competente administrador público Não voto aqui, transferi meu título para Kuala Lumpur (43% dos votos), seguido pelo não menos íntegro Não sei ainda, tenho que consultar os búzios, o Manoel Carlos e as angras dos reis (26%). Ferra amarrou a lanterna (um único voto).


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Impedimento, que bonito ééé..!!!



Tantantantantantantantannnnnnn...Chego a ouvir a indefectível trilha do Canal 100. Sou tão chegada a futebol e íntima de assuntos de gramado como o bacalhau o é da soda limonada. Mas não tenho como não prestigiar as quatro linhas - www.jblog.com.br/clubedos4.php - do grande (e muito reservado) jornalista Claudio Fernandez. Que só agora descobri ter uma única mancha nessa trajetória de reputação ilibada: ser vascaíno. Ele divide o campo com o tricolor Gustavo Conte, o rubronegro Gustavo Serra e - quem salva a minha pátria ali - Cristiano Carvalho, o glorioso.

Ao receber email (meu computador é equipado com um dispositivo japonês de última geração só para amortecer os impactos tonitroantes provocados pelas mensagens deste que, a despeito de ser um dos mais bem informados homens de imprensa do Brasil, nunca ouviu falar em Isabel Cristina Leopoldina de Bragança) do super Claudio falando de seu blog, viajei no tempo. Achei graça ao lembrar que, mesmo sem entender patavinas de futebol, cheguei a trabalhar na campanha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2006.

Gente, na boa, com muito esforço e concentração, posso ter uma nebulosa noção sobre o controvertido marco regulatório do pré-sal, a insegurança jurídica como inibidor de investimentos no país, os pleitos empresariais de desoneração tributária, as metas de superávit fiscal, o futuro da matriz energética brasileira e até crédito de carbono...Mas o tal do impedimento coloca a minha claudicante inteligência, sem dó nem piedade, em seu verdadeiro lugar: um pires. Sem Glória, sem Cléo e sem Marcelo. Esse tormento me massacra, tripudia, fustiga.

Por mais que me dedique com afinco, até como supremo desafio intelectual - a assimilar essa intrincada lei, observando com atenção os replays televisivos para dirimir as eternas dúvidas sobre se houve ou não a esfíngica infração - não adianta. A coisa, invariavelmente, surge como um apavorante totem à minha frente. Meu sono, após a rodada do Fantástico aos domingos, agita-se ao modo de Robinho na grande área. Arnaldo Cesar Coelho invade meus sonhos. Pelo apito do Armando Marques, a regra é clara para quem, cara pálida? Sempre penso em pedir ajuda a meu querido Paulo Cesar Vasconcellos. Mas nunca tenho coragem. Temo que seria motivo de sobra para ele dar uma justa causa em nossa amizade que remonta aos bancos escolares na Gávea. Até de descobrir o mistério mais insondável do planeta - a fórmula da coca-cola - já estou bem mais próxima.

Não obstante desconhecer essa lei rudimentar do futebol, por conta da campanha já mencionada, fui parar na sede da Fifa. Isso mesmo que você leu: s-e-d-e-d-a-f-i-f-a. Costumo brincar com meus amigos: quem você conhece que já foi à Fifa? (assim como perguntar, para valorizar outras façanhas que engrandecem meu currículo em excentricidades, por exemplo: "quem você conhece que já foi ajudante de mágico em festa de criança?"...mas aí já é outra história).

Zico era, então, o presidente do Comitê de Campanha do Brasil, e viajávamos com os inspetores da Fifa em visitas a estádios e audiências com ministros, governadores e prefeitos. E, claro, Fernando Henrique Cardoso. Desse encontro, lembro bem do príncipe sociólogo perguntando aos gringos: "Vocês querem que eu fale em inglês ou em francês?". O que, na ocasião, me soou como mais um lance do high profile FHC, hoje, com tanto desprezo às mínimas concordâncias verbais e nominais...ah, sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão. Menas, menas...

Apareçam no blog dos meninos. E - dentro dos mais rigorosos, imexíveis e irrevogáveis princípios democráticos que regem este estabelecimento - por obséquio, comentários elogiosos, só para o Cristiano. Botafogo nisso, rapaz! Já somos 7 (número cabalístico e emblemático - camisa do Garrincha!) agora: você, eu, Beth Carvalho, Marina Lima, João Moreira Salles, Manequinho e o Elyzio da Insight. Bola pra frente!

Sucesso, Dom Claudius! Se o senhor me convidar para um jantar no Antiquarius em torno de um Gomes de Sá - bacalhau, só assim -, posso rever, imediatamente, minhas sólidas e irremovíveis convicções sobre a cruz de malta. E pago a rolha. Palavra de senadora!

Obs: acabo de saber que o Pipoca da Insight também veste preto e branco. Já somos 8, então - o símbolo do infinito.



Oi & Bulhufas


Ontem fui à inauguração do Oi Futuro de Ipanema, prestigiar a grande Graciela Urquiza Mendes, gerente de Comunicação Corporativa da empresa. Luxo só: reformaram, maravilhosamente, um prédio na Visconde de Pirajá que eu, a vida inteira passando por ali, jamais dei por conta. Performance de Arnaldo Antunes no teatro e projeções de Vik Muniz. Presentes: de Beth e Paulo Goulart a Lenine, de Antonio Cícero a Oto, de Heloísa Buarque de Hollanda a Lucio Mauro Filho. E, gente, o sumido Felipe Dylon! Há quem garanta ter visto até Belchior por lá. Obrigada pelo convite, amiga. Vida longa a esse novo espaço, mais um biscoito finíssimo para degustação na cidade.

E, por falar em craques da assessoria de imprensa, quem adorar rabugices engraçadas e inteligentes, como eu, nada melhor que visitar o http://bulhufas.blogspot.com/ (já adicionado aos favoritos da padaria). É da jornalista Nara Franco, também uma das donas do badalado circo http://tudopalhaco.blogspot.com/. Pena que, enquanto trocamos ideias malucas no mundo virtual, não dê pra rolar uns tapas (opa! comestíveis, claro) com uma cava Carta Nevada, né, Naná? Grande é a fé do pescador de pérolas, querida.



domingo, 13 de setembro de 2009

Falando grego. E português claro, principalmente.




Com algum tempo de folga no fim de semana, aproveitei para sair um pouco da toca, atrás de biscoitinhos finos para arejar os sentidos no turbilhão das fornadas diárias e intensas da padaria. Na sexta, restaurante com espumante gelado e comidinhas deliciosas para celebrar o aniversário de uma amiga queridaça. 

Sábado, trabalho no livro em progresso até 15h. Depois, garimpagens na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. Balanço das novas aquições culturais: o livro "Diários - Susan Sontag", o DVD de Toni Platão e Guinga em dose tripla, com os CDs "Simples e abusurdo", "Cheio de dedos" e "Suíte Leopoldina". Um superávit e tanto. Meu roteiro incluía ainda "Falando grego", no Leblon 2. Eu havia lido que não configurava nenhum filme do século. Mas, em se passando na Grécia, eu iria conferir nem que o bonequinho estivesse no terceiro sono. Só pelo desejo de presentear minhas retinas com aquelas paisagens deslumbrantes.

Pra mó de fazer hora até o início da sessão, uma andada com o fito de descansar os olhos impregnados de letrinhas no azul profundo do mar sem fim. E respirar o vento da beira da praia. Ao adentrar o cinema, me dirigi ao Pop Corn Association and Company Incorporated. Sim, porque só pode se tratar de um poderoso conglomerado internacional aquele balcão muito do fajuto que comercializa milhos explodidos e coca-colas mais sem gás que consumidor inadimplente na CEG. Como se sabe, há uma grita geral em torno dos preços de ingressos não só para filmes, mas peças e shows (sem falar de CDs e livros) no Brasil. Agora, convenhamos, o preço da entrada de cinema é simplesmente ridículo se comparado ao da pipoca - e do refri. Eu, pessoalmente, por ser cliente de um determinado banco, o que dá direito a um desconto de 50% sobre o ingresso cheio, paguei R$ 11. O pacote gigantesco (não há a opção por aquelas escalas mais humanas do velho e bom pipoqueiro da esquina) de grãos requentados e murchos - que teimavam em cair pelo chão, por mais me esforçasse em impedir sua queda, visto que ainda colocam um "choro" inequilibrável por cima - saiu por exorbitantes R$ 7 (a coca é bem mais em conta: só R$ 5).

Irônico que se reclame tanto quando a questão é mexer no bolso para fins culturais e tão pouco quando se trata de chope e batata frita nos bares, por exemplo, em que se aferem lucros estratosféricos. Quanto custa um copo de 300 ml do primeiro? E que volume se consome numa única noite? E o que dizer de uma simples porção da segunda - R$ 10, 12? A quanto sai o quilo do tubérculo no atacado, como eles compram? Que incrível quantidade é necessária para compor aquela vistosa montanha de colesterol? Duas unidades? Três, no máximo?

Por trás de um boteco, há uma equipe de profissionais que se dedicam a tirar um chope bom ou fazer uma batata frita sequinha. Mas por trás de um filme, uma peça, um show, uma exposição, um CD, um livro existe, igualmente, um universo de produtores (incluindo os respectivos custos de processos operacionais) que faz, com muito empenho, uma coisa linda acontecer - e nos transformar, nos enriquecer. No entanto, esse contingente parece constituir um ente invisível.  

Nada contra os preços praticados nos estabelecimentos comerciais. Cobra quem pode e paga quem quer. É a lei do mercado livre. Mas a feroz indignação contra o custo de um setor e a extrema complacência com o de outro são o retrato irretocável da dimensão da importância que sempre se atribuiu ao campo da educação e cultura no Brasil: traço no Ibope. Uma contradição em termos, num país com tamanho índice de estudantes, do que é prova irrefutável o volume absurdo de carteirinhas apresentadas nos guichês de cinemas e teatros. E que são as responsáveis pelos preços dos ingressos estarem no patamar que tanto contestam - e só pagos pelos honestos. Os que nos representam em Brasília não são frutos de geração espontânea. Mas um microcosmo da nossa sociedade. Reflitamos. 

De volta ao "Falando grego", sem maiores comentários. Divertido, levinho e, para meus olhos, muito, muito emocionante. Especialmente a cena no Partenon, coincidentemente - ou não - a foto que havia escolhido para inaugurar essa padaria. Chorei, claro, ao vê-lo na telona. E agora o reproduzo de outro ângulo. Você já foi à Grécia, bicho? Se foi, como não entender Georgia? Se não, então vá. A passagem para Atenas é mais barata do que pipoca, chope e batata frita no Brasil.  

Saudações socráticas, platônicas e aristotélicas.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pablo et Chico Caruso, notre amour



Outro dia disparei email a alguns amigos com: `o que você perguntaria a Chico e Paulo Caruso?´. Céus, como é difícil elaborar uma pauta original para personalidades acostumadas a conceder entrevistas! Procuro fugir das perguntas óbvias como o presidente da República foge dos livros, por saber o quão enfadonho é para elas a repetição ad nauseam das mesmas respostas a questões preguiçosas. Nesse ambiente, ocorreu-me a ideia de sondar uns amiguinhos, no intuito de escapar dos ululantes `de onde vem a inspiração´ ou ´com esses políticos vocês têm medo de perder o emprego´? Mas, para meu desapontamento, os consultados ou não levaram a sério o pleito ou, o mais provável, viram na enquete um expediente escuso de trabalhar de forma não remunerada em meu lugar. Com isso, rolou água abaixo meu projeto socialdemocrata ´muitas cabeças pensam melhor que uma´.

Foi assim que, num sábado de sol pela manhã, saí a pé feliz da vida para entrevistar os gêmeos para a Carioquice, a bordo de meu próprio repertório de perguntas. Estava eu deveras temerosa pelo horário marcado: 10h30. Conquanto não goste nada de acordar tarde, mesmo em finais de semana, a parte da manhã constitui um período delicado ao bom desempenho de minhas funções cognitivas - se é que em algum outro momento do dia isso de fato ocorra a contento. A depender de mim, só executaria atividades físicas e mecânicas, como andar na praia, fazer supermercado ou dar uma organizada na linha de montagem da padaria. Por isso, nunca marco entrevistas nesse interregno. Que me lembre, a última vez que isso ocorreu antes das 14h foi com Américo Vespúcio. Por telefone ainda vá lá...são muitas a serem feitas...mas, pessoalmente...Até alertei Vera, serena editora da revista - com quem divido, ao lado de questões profissionais, seriíssimos interesses gastronômicos -, que havia agendado o colóquio: `ok, mas não respondo pela qualidade da entrevista a uma hora dessas e num sábado! ` O fato é que, na véspera, em clima de concentração total ISO 9000, fui para a cama cedo ver tv com uma xícara de café com leite, ovo quente, rolinhos de queijo com presunto e salada de frutas como arremate. O receio só aumentou com a preocupação de como eles próprios poderiam estar cansados, visto que tinham feito show (www.cabarecaruso.com.br) no bar do Tom até tarde na noite anterior.

Às 10h30 em ponto, eu tocava a campanhia do apartamento de Chico no Leblon. Os dois tomavam um breakslow. Chico me ofereceu café. Fui de água. "E o espetáculo ontem? - engatei, na tentativa de entabular uma tertúlia amistosa, enquanto, educadamente, esperaria eles terminarem a refeição. Pronto! Foi o que bastou. Os irmãos começaram a falar com tamanha empolgação que, surpresa, apressei-me: `opa, assim, já vou ligar o gravador!`. Chico riu para o digitalzinho sobre a mesa: `Isso aí é gravador, é?`. E os dois desandaram a falar, numa tagarelice tão explosiva e animada, que súbito, Paulo levantou-se da mesa e dirigiu-se ao piano para tocar a primeira de algumas músicas que os dois cantariam juntos ao longo da manhã. A canção fora composta por Paulo aos 17 anos e falava justamente da condição de gêmeos. Que coisa mais bonita. Ali, comecei a me apaixonar pela paixão entre esses dois homenzarrões. Quanta ternura antiga saindo daqueles vozeirões de trombone! Que alegria sincera nos olhinhos dos dois gigantes do desenho que mais pareciam meninos, cantando e rindo para mim e o fotógrafo Marcelo Carnaval, como a buscar cumplicidade para suas estripulias.

Quis trazer isso aqui, pois sei que os Caruso são figuras muito queridas entre nós todos, por razões de sobra. E, em especial nesse momento em que tantos homens que deveriam nos representar e servir de exemplo nos envergonham, dividir o privilégio de ter compartilhado por uma manhã a intimidade desses dois brasileiros que nos orgulham, ao dedicar suas vidas a passar em revista crítica a vida nacional pelo filtro sofisticado do humor. Se tivesse que resumir em uma palavra o encontro, não hesitaria: afeto. Afeto mil. E afetação zero.

Em determinado momento, brincamos com o fato de eles fazerem profissionalmente o que mais adoram e ainda serem remunerados por isso. A correlação com a minha própria situação ali foi inevitável. A princípio, o que seria um fardo para qualquer um ser escalado para trabalhar num sábado de sol pela manhã, estava sendo uma dádiva. Em outras palavras, era impossível me sentir `trabalhando`. Como se não bastasse, ainda ganhei de presente de Chico seu livro ´Pablo, mon amour`, em torno de um trabalho em formato de posters sobre Picasso que eu havia comprado em São Paulo há muitos anos. Achei graça na coincidência. E, mais uma vez, agradeci a profissão que escolhi. Voltei para casa mais feliz ainda.


domingo, 6 de setembro de 2009

λέξη


A palavra é um poderoso soberano que, com um pequenino e invisível corpo, realiza empresas absolutamente divinas. (...) As sugestões inspiradas mediante a palavra produzem o prazer e expulsam a dor. A força da sugestão, apoderando-se da vontade da alma, a domina, a convence e a transforma como por fascinação (Górgias).