Siri Mole, Atlântica, domingo
My Romance, com Carly Simon:
Meu amor
(Paul Éluard - tradução de Antonio Cícero)
Meu amor por ter figurado meus desejos
Posto teus lábios no céu de tuas palavras como um astro
Teus beijos na noite viva
E o rastro de teus braços em torno de mim
Como uma chama em sinal de conquista
Meus sonhos estão no mundo
Claros e perpétuos
E quando tu não estás
Sonho que durmo sonho que sonho
Por falar em Antonio Cícero, posto aqui trechos de um texto dele sobre o tédio que li hoje:
"Quase todos os nossos tédios são, como diz o poeta Paul Valéry, 'nossa criação original´. Difamar o mundo -e o mundo é sempre o mundo contemporâneo-, chamando-o de tedioso, diz muito sobre o difamador e nada sobre o mundo. Este não pode ser classificado nem de tedioso nem de interessante, pois é nele que se encontra tudo o que pode haver de interessante e de tedioso. Por isso, ele é entediante para quem é entediante, superficial para quem é superficial, profundo para quem é profundo, e interessante para quem é interessante.
Assim é que, por exemplo, com um estado de espírito oposto ao do difamador do mundo, Montesquieu anotou num caderno que quase nunca tinha tristeza, e menos ainda tédio. Na mesma página, escreveu também: "Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie de arrebatamento". Esse, sim, é um sentimento verdadeiramente superior.
Como é possível ser tediosa a vida de uma pessoa que dispõe do seu tempo?
Creio que a resposta é que o tédio costuma acometer qualquer um que tenha orientado tudo na sua vida por uma única causa final.
A pessoa para quem o tédio se dá desse modo é aquela que tem um interesse obsessivo por uma só coisa. Nesse caso, encarando todas as demais coisas como meros caminhos ou obstáculos para a consecução do seu objetivo, ela as destitui de qualquer interesse intrínseco.
À medida que, em vez de facilitar o avanço dela rumo a esse ponto final, algo possui uma espessura e opacidade própria, à medida que exige atenção para si mesmo, passa a ser um obstáculo. Sendo assim, o tempo que, a contragosto, tal pessoa é obrigada a lhe dedicar, passa a ser um tempo de desvio, tempo que gostaria de ver passar o mais rapidamente possível, abrindo-lhe novamente caminho para a retomada da corrida rumo à finalidade última. Tal é o tempo do tédio, que ela tenta "matar", como se o tempo não constituísse a própria substância da vida.
O ponto final pode ser, por exemplo, uma paixão devoradora, que atropele tudo o mais. Digamos que uma pessoa vá a uma festa esperando ver o objeto de sua paixão e, lá chegando, não o veja. Então a festa que, não fosse por essa frustração, poderia ser uma delícia, torna-se, para ela, o mais puro tédio. Sem ganhar o objeto da paixão, ela perde o mundo".
Assim é que, por exemplo, com um estado de espírito oposto ao do difamador do mundo, Montesquieu anotou num caderno que quase nunca tinha tristeza, e menos ainda tédio. Na mesma página, escreveu também: "Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie de arrebatamento". Esse, sim, é um sentimento verdadeiramente superior.
Como é possível ser tediosa a vida de uma pessoa que dispõe do seu tempo?
Creio que a resposta é que o tédio costuma acometer qualquer um que tenha orientado tudo na sua vida por uma única causa final.
A pessoa para quem o tédio se dá desse modo é aquela que tem um interesse obsessivo por uma só coisa. Nesse caso, encarando todas as demais coisas como meros caminhos ou obstáculos para a consecução do seu objetivo, ela as destitui de qualquer interesse intrínseco.
À medida que, em vez de facilitar o avanço dela rumo a esse ponto final, algo possui uma espessura e opacidade própria, à medida que exige atenção para si mesmo, passa a ser um obstáculo. Sendo assim, o tempo que, a contragosto, tal pessoa é obrigada a lhe dedicar, passa a ser um tempo de desvio, tempo que gostaria de ver passar o mais rapidamente possível, abrindo-lhe novamente caminho para a retomada da corrida rumo à finalidade última. Tal é o tempo do tédio, que ela tenta "matar", como se o tempo não constituísse a própria substância da vida.
O ponto final pode ser, por exemplo, uma paixão devoradora, que atropele tudo o mais. Digamos que uma pessoa vá a uma festa esperando ver o objeto de sua paixão e, lá chegando, não o veja. Então a festa que, não fosse por essa frustração, poderia ser uma delícia, torna-se, para ela, o mais puro tédio. Sem ganhar o objeto da paixão, ela perde o mundo".
Domingo com acarajé na praia? Que chato hein? Tudo lindo: a música, o poema e o texto do Cícero.
ResponderExcluirBjs
Sandra
Tem razão, Sandra, foi um dia aborrecidíssimo.
ResponderExcluirObrigada pela visita.
Bj
Lê-rê-lê-rê...que vida mais difícil...
ResponderExcluirObrigada pelos presentes de hoje e de sempre.
Beijos
Adriana
Eu que agradeço a visita, Adri.
ResponderExcluirBj
M
Muito bom esse texto do Antonio Cícero.
ResponderExcluirUm beijo pra você com muita saudade.
Luciano.
Oi Lu,
ResponderExcluirQue bom que gostou.
Saudade de vc tb, querido.
Beijo grande.
M
Monica,
ResponderExcluirAdoro todas as suas indicações de músicas, poesias, livros, enfim...
Sempre sensíveis demais.
Como essa do texto do Antonio Cícero.
O que só me faz querer registrar que o que eu mais gosto mesmo é de ler suas próprias impressões sobre a vida em geral, como aquela em que você fala dos "anos bem vividos".
Sinto falta disso.
Quando teremos mais?
Com carinho e a imensa admiração, sempre.
Patricia