terça-feira, 27 de julho de 2010

Copacabana me engana e explode


Neste momento de sintonia fina com o cosmos, impregnado de luares:

"Quando Ismália enlouqueceu
Pôs-se na torre a sonhar
Viu uma lua no céu
Viu outra lua no mar"

                                                                          (Alphonsus de Guimaraens)


Melodia Sentimental

acorda, vem ver a lua
que dorme na noite escura
que surge tão bela e branca
derramando doçura
clara chama silente
ardendo meu sonhar

as asas da noite que surgem
e correm o espaço profundo
oh, doce amada, desperta
vem dar teu calor ao luar

quisera saber-te minha
na hora serena e calma
a sombra confia ao vento
o limite da espera
quando dentro da noite
reclama o teu amor

acorda, vem olhar a lua
que brilha na noite escura
querida, és linda e meiga
sentir meu amor e sonhar


Composição magistral de Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos, na interpretação de quem? Maria Bethânia:




quarta-feira, 21 de julho de 2010

Coração de feltro


Pra Claudinha

artefato de criança
eu te recrio em cores e texturas
em tudo que a memória cristaliza e avança
nossas vidas puras

e tateantes e embrionárias e confusas
e alegres e ingênuas e aflitivas
o despertar das sensações difusas
que ainda hoje permanecem vivas
 
Com todo o carinho, canceriana querida: "Lua pra guardar " (Léo Henkin), na voz de Pedro Mariano.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Regente do mundo da imaginação


Aqui, a matéria que fiz para a Carioquice com José Castello, escritor e colunista do Prosa&Verso do Globo:

                                         http://www.carioquice.com.br/upload25/25/05.pdf

Na foto, a capa de seu (imperdível) livro A literatura na poltrona. Tarefa de doido escolher apenas alguns trechos:

Cada um lê com o que tem, lê com o que é, lê como pode. Não existe leitura perfeita, nem completa; muita coisa, mesmo para os leitores treinados, sempre fica de fora.

Fazer do silêncio um caminho. Da espera, uma resposta. E das respostas, perguntas.

O que me sufocava era sua liberdade.

Da arte, não se pede rigor, mas susto. Ao artista, não se pedem competência e certezas, mas hesitação e desassossego. Do escritor não se espera a palavra bem dita e o português castiço, mas a palvra plena e o pensamento devastador. Se a arte serve para alguma coisa, é para colocar em dúvida as nossas certezas, fixações e ilusões.

Sem paixão ninguém faz arte. É verdade também: ninguém faz nada. Ou se faz, é "por fazer".
 
 

domingo, 4 de julho de 2010

Vigias




quem dorme a teu lado?
um lírico,
a te preencher de imaginação e espera?

um miserável de alma,
com sua terrível incapacidade de abstração
para notar não o que vai no fundo (nem se pede o melhor do mundo)
mas, ao menos, sobrevoar uma intangível superfície,
um dia sem realidade demais?

quem te rodeia?
um ladrão de galinhas
de insuspeitável aparência
que rouba sempre migalhas, migalhinhas
a quase nem se notar
a tarefa insana de subtrair sempre - e mais e mais
cada dolorido tijolo de tua construção em balanço
e um a um teus brinquedos de sobrevivência?

quem te ronda?
um assaltante profissional,
capaz de extrair tudo (sangue e pensamento, o que povoa teus sonhos...)
e esvaziar com requinte o conteúdo
de qualquer indesculpável gotejar?

pelo teu cristalino
vi a refração do desejo e do medo se espalhar 
em incidências de luzes e sombras
profundidades e vazios
e era só o teu olhar

brilhante
opaco, errante
embaçado
como se uma incômoda membrana
perturbasse a própria razão de enxergar
para ver o que?
céus, para ver o que?

"Meio-termo" (Lourenço Baeta/Cacaso), na voz de Elis: