segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Carta d´Itália


William, nosso amado,

Quando precisaste cessar nossa correspondência, falavas, exatamente, desses abalos sísmicos que investem sobre as almas indômitas que se lançam com desassombro nas espirais do mundo. E se esquecem que, de quando em quando, são necessárias acomodações até mesmo no centro da terra.

Não é outro teu labirinto, nosso adorado – nisso te consomes – que fazer? O privilegiado clube da entrega é caro, caríssimo. Bota caro nisso. E poucos podem ou estão dispostos a pagar seu preço acachapante. De seus frequentadores, tão intensamente se cobra que a maior parte os deixa, celeremente, partindo para agremiações muito mais em conta.

Como culpá-los? Afinal, convenhamos, caminhar na superfície d´água, em que é possível medir com clareza onde tocam nossos pés, é muito diferente do que mergulhar no mar profundo, em que tudo é imprecisão e incerteza.

Claro fique que sempre há tempo de reconsideramos os custos-benefícios de conviver nesse fechado círculo, e migrar para assembléias de paisagens bem mais amenas, confortáveis e seguras. E aí te acautela, te reguarda, te recolhe às conchas que – suponhas - te defendam do que há de vir.

Contudo, nosso irmão, se intencionas insistir como um fiel associado dessa obstinada corporação dos que se entregam, aceita sem fraquejar suas cláusulas, abraça com ardor seus fundamentos e segue teu caminho de desbravamento. A causa - e por ventura não a atestas? - é nobilíssima. Ah, e não esquece que teu trabalho, a exemplo de todos no grupo, é o de arregimentar mais e mais integrantes. De 1595 para cá, a debandada tem sido geral. Eles não sabem o que andaram perdendo...

De nossa parte, lembramos que não foi nada fácil a decisão de nos tornar sócios-fundadores desse exigente, mas adorável, clubinho. Aproveitamos para mandar foto para te emocionares, como de hábito, com nossa sede, em Verona.

PS: Em retribuição à música esplêndida que nos ofereceu, o presenteamos com “Devaneio”, de Jorge Vercillo.


Estamos ou não atualizados?

Com afeto,

Julieta e Romeu.

11 comentários:

  1. Magistral exposição em prol dos que ardem.

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  2. De onde vc tira essa idéias, Monica Sinelli?
    Muito bom!!!
    Marília

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  3. Arrasador esse diálogo entre criador e criaturas.
    Você é um furor com as palavras.
    Bj grande.
    Alex

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  4. No words..I mean...in a word: Amazing!

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  5. É realmente uma pena que, no lugar de uma vida apaixonada e apaixonante, tenha quem prefira o raso, o morno, o "normal", o "seguro"...
    Esta, decididamente, não é você.
    Mil beijos.
    Luciano

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  6. Vou me afiliar a esse clube. Os sócios são maravilhosos.
    Oscar

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  7. Extraordinariamente bem escritas as duas cartas.
    Ronaldo.

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  8. Isso é o que chamo de abalar as estruturas

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  9. Um verdadeiro petardo, do tipo "Acorda, amor!"
    Carlos

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  10. William, Julieta e Romeu, eu adoraria ser o sócio de carteirinha nº 1 desse clube.
    Saudade dos senhores.
    Abraços do
    Otelo

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  11. Ju,Ro e Bill
    Homens e mulheres são feitos de palavras.
    Porque elas são o meio e em essência, a forma de enterdermos...o que nos acontece.
    Parece-me que...perdidos,entre o ser e o não ser há lugar para se achar onde se quiser.
    Desde que seja verdade,e que faça sentido.
    O mundo não está dividido entre os rasos e os profundos.
    Há sim os que optam ou não pela busca.
    Do sentido.
    Beijo

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