domingo, 13 de setembro de 2009

Falando grego. E português claro, principalmente.




Com algum tempo de folga no fim de semana, aproveitei para sair um pouco da toca, atrás de biscoitinhos finos para arejar os sentidos no turbilhão das fornadas diárias e intensas da padaria. Na sexta, restaurante com espumante gelado e comidinhas deliciosas para celebrar o aniversário de uma amiga queridaça. 

Sábado, trabalho no livro em progresso até 15h. Depois, garimpagens na Livraria da Travessa do Shopping Leblon. Balanço das novas aquições culturais: o livro "Diários - Susan Sontag", o DVD de Toni Platão e Guinga em dose tripla, com os CDs "Simples e abusurdo", "Cheio de dedos" e "Suíte Leopoldina". Um superávit e tanto. Meu roteiro incluía ainda "Falando grego", no Leblon 2. Eu havia lido que não configurava nenhum filme do século. Mas, em se passando na Grécia, eu iria conferir nem que o bonequinho estivesse no terceiro sono. Só pelo desejo de presentear minhas retinas com aquelas paisagens deslumbrantes.

Pra mó de fazer hora até o início da sessão, uma andada com o fito de descansar os olhos impregnados de letrinhas no azul profundo do mar sem fim. E respirar o vento da beira da praia. Ao adentrar o cinema, me dirigi ao Pop Corn Association and Company Incorporated. Sim, porque só pode se tratar de um poderoso conglomerado internacional aquele balcão muito do fajuto que comercializa milhos explodidos e coca-colas mais sem gás que consumidor inadimplente na CEG. Como se sabe, há uma grita geral em torno dos preços de ingressos não só para filmes, mas peças e shows (sem falar de CDs e livros) no Brasil. Agora, convenhamos, o preço da entrada de cinema é simplesmente ridículo se comparado ao da pipoca - e do refri. Eu, pessoalmente, por ser cliente de um determinado banco, o que dá direito a um desconto de 50% sobre o ingresso cheio, paguei R$ 11. O pacote gigantesco (não há a opção por aquelas escalas mais humanas do velho e bom pipoqueiro da esquina) de grãos requentados e murchos - que teimavam em cair pelo chão, por mais me esforçasse em impedir sua queda, visto que ainda colocam um "choro" inequilibrável por cima - saiu por exorbitantes R$ 7 (a coca é bem mais em conta: só R$ 5).

Irônico que se reclame tanto quando a questão é mexer no bolso para fins culturais e tão pouco quando se trata de chope e batata frita nos bares, por exemplo, em que se aferem lucros estratosféricos. Quanto custa um copo de 300 ml do primeiro? E que volume se consome numa única noite? E o que dizer de uma simples porção da segunda - R$ 10, 12? A quanto sai o quilo do tubérculo no atacado, como eles compram? Que incrível quantidade é necessária para compor aquela vistosa montanha de colesterol? Duas unidades? Três, no máximo?

Por trás de um boteco, há uma equipe de profissionais que se dedicam a tirar um chope bom ou fazer uma batata frita sequinha. Mas por trás de um filme, uma peça, um show, uma exposição, um CD, um livro existe, igualmente, um universo de produtores (incluindo os respectivos custos de processos operacionais) que faz, com muito empenho, uma coisa linda acontecer - e nos transformar, nos enriquecer. No entanto, esse contingente parece constituir um ente invisível.  

Nada contra os preços praticados nos estabelecimentos comerciais. Cobra quem pode e paga quem quer. É a lei do mercado livre. Mas a feroz indignação contra o custo de um setor e a extrema complacência com o de outro são o retrato irretocável da dimensão da importância que sempre se atribuiu ao campo da educação e cultura no Brasil: traço no Ibope. Uma contradição em termos, num país com tamanho índice de estudantes, do que é prova irrefutável o volume absurdo de carteirinhas apresentadas nos guichês de cinemas e teatros. E que são as responsáveis pelos preços dos ingressos estarem no patamar que tanto contestam - e só pagos pelos honestos. Os que nos representam em Brasília não são frutos de geração espontânea. Mas um microcosmo da nossa sociedade. Reflitamos. 

De volta ao "Falando grego", sem maiores comentários. Divertido, levinho e, para meus olhos, muito, muito emocionante. Especialmente a cena no Partenon, coincidentemente - ou não - a foto que havia escolhido para inaugurar essa padaria. Chorei, claro, ao vê-lo na telona. E agora o reproduzo de outro ângulo. Você já foi à Grécia, bicho? Se foi, como não entender Georgia? Se não, então vá. A passagem para Atenas é mais barata do que pipoca, chope e batata frita no Brasil.  

Saudações socráticas, platônicas e aristotélicas.


4 comentários:

  1. Tudo pra mim deveria ser pago com desconto, afinal, no meu emprego vivo dando meio ingresso a todos.
    Saudades de vc, do Leblon e das coisas boas da vida.
    bjs fafy

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  2. Fafy, querida, vamos torcer para que em futuro próximo não tenhamos meias peças, meios shows, meios filmes, meios livros, meios CDs...
    Saudades tb.
    Bjs.
    M

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  3. Mônica,
    Rau ariú?

    Tenho visitado sua padaria regularmente. Aproveito para manifestar meu repúdio: considero justo o preço da pipoca nos cinemas cariocas. Na verdade, acho que poderia até ser um pouco mais alto, o mesmo para o valor do ingresso. Não suporto comparecer a um local apinhado de populares.

    Abs

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  4. Meu nobre Kiko, teu nome já diz tudo: Eu-rico.
    O que está na ordem do dia em teu home theatre?
    As brancas de Alba ou as negras de Périgord?
    Um beijo.

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