terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Queridos

Fotos: Academia da Cachaça

Em relação aos comentários que recebi sobre bastidores de entrevistas, interessante a menção do meiquinofe dos Caruso. A esposa do Paulo, Julia, a quem não conheço pessoalmente, me mandou um email, antes de a entrevista ser publicada, que muito me emocionou, em cima da leitura da prévia que postei aqui.

A propósito do que está por trás dessas conversas, lembrei de uma entrevista que fiz ano passado com Simon Khoury, que tem no currículo uma infinidade de entrevistas esplêndidas com todos os nomes importantes do universo artístico brasileiro. Tantas delas acompanhei com avidez, bem menina, no rádio, no programa Noturno, da JB FM. Sobre a técnica de entrevistar, ele me disse: "Mais importante do que o artista me dizia, era observá-lo em sua casa, a forma como falava com seus filhos, seus empregados. Olhar seus objetos, suas coleções. Isso dizia mais do que suas palavras para traçar um perfil". Tão importante essa declaração do Simon, em tempos modernos que impõem entrevistas por telefone e por e-mail.

E me ocorreu a primeira entrevista que fiz na vida, com Caetano Veloso, aos 17 anos, para o jornalzinho do colégio, com meu amigo Paulo Cesar Vasconcellos. Caetano nos encaminhou para um cômodo que seria não exatamente o escritório dele, mas um ambiente comum no apartamento térreo de fundos da Delfim Moreira. Eu observava com curiosidade aguda os objetos. Discos de outros artistas em separado do restante foram os focos da minha atenção, para saber o que ele estava ouvindo naquele momento.
Os dois, CV e PC, como bons leoninos, falavam pelos cotovelos. Eu, lá, sentada no chão ao lado do mano de Bethânia, quieta como um araçá azul. Caetano, irritadíssimo com a Veja (com a gente, dois pirralhos, foi educadíssimo, gentilíssimo), discursava sem parar, como se estivesse diante de um importante órgão de imprensa. E eu, tonta ali, com meu ídolo, encostando cotovelos. Parecia um sonho, não uma entrevista.

                                                          

Tempos depois, já trabalhando, recebi uma pauta para entrevistar...Tom Jobim. E pauta bem específica, para uma edição especial sobre Brasília. Tom compôs com Vinícius - encomendada pelo presidente Juscelino Kubitschek - a "Sinfonia da Alvorada". E disso deveríamos tratar.

Primeiro, devo dizer que nem em sonho achei que conseguiria marcar a entrevista. Ligamos para a assessora de imprensa, Gilda Mattoso (que - olha como são as coisas - vim a entrevistar ano passado para a Carioquice), na esperança vã. Pouco tempo depois, retornava Gilda, marcando a conversa com Tom para o dia seguinte, às 11h. Eu nem sabia o que pensar. Too good to be true.


                                                   

No horário marcado, lá estava eu, na porta da casa da rua Sara Vilela, no Jardim Botânico. Toquei a campanhia. Quem chega no portão? Sim, o maestro soberano em pessoa. Sem empregados, assessores, nada. Ele: "Ah, não estou sabendo de entrevista, não. Mas, vamos entrando". Ficamos conversando naquele lindo e ensolarado estúdio que sempre aparece nas entrevistas.

Como falei, eu tinha uma pauta bem específica a cumprir. Mas quem disse? Ele só falava o que queria. "O que o homem deseja? Escravizar o índio, a mulher, a natureza...". Enfim, transcorreu uma Basf 90 inteira com Tom falando de tudo. Menos da Sinfonia. Àquela altura, mesmo em início de carreira, eu já tinha alguma experiência para extrair o que precisava de empresários, autoridades. Mas não DESSA autoridade. Que se impunha tão suavemente, como fazem as autoridades genuínas.

Confesso que foi difícil escrever a matéria depois, com pouquíssimos dados a respeito do tema em questão. E nem preciso lembrar que na época nem havia Google para oferecer tudo de bandeja. Claro que hoje, experiente, conseguiria um jeitinho de obter mais informações sobre o processo de composição e gravação da Sinfonia. Mas, enfim...como a revista era de Arquitetura, achei um artifício de abrir a matéria falando sobre o projeto da casa...que ele, depois da construção pronta, resolveu suspender a laje de cobertura para aumentar o pé direito...ufa!...Dei minha enrolada e, no final, tudo certo. A matéria saiu e eu guardo esse dia do encontro com Tom como um momento privilegiado e sublime.
 
                                                       

Vamos viajar com "Querida": http://www.youtube.com/watch?v=PO80dElNF8s

 

6 comentários:

  1. Ah, gostei de ver! Nossos desejos atendidos...
    Que maravilha. Sabia que no final ia ter uma música linda nos esperando.
    Baideuei (como você gosta de dizer)essas imagens todas são da academia da cachaça?
    Bjs
    Rafael

    ResponderExcluir
  2. Oba!!! Puxa, que honra que respondeu tão prontamente aos nossos apelos!
    E que delícia (e relíquias!) essas histórias sobre Caetano e Tom, Moniquinha.
    Maravilhosas.
    Devemos considerar que isso é só o começo, é ou não é???
    Super obrigada! E a música escolhida para lembrar do Tom...melhor impossível.
    Mais, mais!
    Adriana

    ResponderExcluir
  3. Muito legal, Monica!
    Conte-nos muito mais e sempre.
    Beijo
    Alex

    ResponderExcluir
  4. Rafa, vamos dizer que todas as imagens foram feitas na A da C. Mas o céu (assim) como a praça Castro Alves é do povo) é do avião.
    Bj
    M

    ResponderExcluir

Comentário