segunda-feira, 28 de dezembro de 2009


Siri Mole, Atlântica, domingo


My Romance, com Carly Simon:



 Meu amor
                                                                                      (Paul Éluard - tradução de Antonio Cícero)

Meu amor por ter figurado meus desejos
Posto teus lábios no céu de tuas palavras como um astro
Teus beijos na noite viva
E o rastro de teus braços em torno de mim
Como uma chama em sinal de conquista
Meus sonhos estão no mundo
Claros e perpétuos

E quando tu não estás
Sonho que durmo sonho que sonho



Por falar em Antonio Cícero, posto aqui trechos de um texto dele sobre o tédio que li hoje:

"Quase todos os nossos tédios são, como diz o poeta Paul Valéry, 'nossa criação original´. Difamar o mundo -e o mundo é sempre o mundo contemporâneo-, chamando-o de tedioso, diz muito sobre o difamador e nada sobre o mundo. Este não pode ser classificado nem de tedioso nem de interessante, pois é nele que se encontra tudo o que pode haver de interessante e de tedioso. Por isso, ele é entediante para quem é entediante, superficial para quem é superficial, profundo para quem é profundo, e interessante para quem é interessante.

Assim é que, por exemplo, com um estado de espírito oposto ao do difamador do mundo, Montesquieu anotou num caderno que quase nunca tinha tristeza, e menos ainda tédio. Na mesma página, escreveu também: "Acordo de manhã com uma alegria secreta; vejo a luz com uma espécie de arrebatamento". Esse, sim, é um sentimento verdadeiramente superior.

Como é possível ser tediosa a vida de uma pessoa que dispõe do seu tempo?

Creio que a resposta é que o tédio costuma acometer qualquer um que tenha orientado tudo na sua vida por uma única causa final.

A pessoa para quem o tédio se dá desse modo é aquela que tem um interesse obsessivo por uma só coisa. Nesse caso, encarando todas as demais coisas como meros caminhos ou obstáculos para a consecução do seu objetivo, ela as destitui de qualquer interesse intrínseco.

À medida que, em vez de facilitar o avanço dela rumo a esse ponto final, algo possui uma espessura e opacidade própria, à medida que exige atenção para si mesmo, passa a ser um obstáculo. Sendo assim, o tempo que, a contragosto, tal pessoa é obrigada a lhe dedicar, passa a ser um tempo de desvio, tempo que gostaria de ver passar o mais rapidamente possível, abrindo-lhe novamente caminho para a retomada da corrida rumo à finalidade última. Tal é o tempo do tédio, que ela tenta "matar", como se o tempo não constituísse a própria substância da vida.

O ponto final pode ser, por exemplo, uma paixão devoradora, que atropele tudo o mais. Digamos que uma pessoa vá a uma festa esperando ver o objeto de sua paixão e, lá chegando, não o veja. Então a festa que, não fosse por essa frustração, poderia ser uma delícia, torna-se, para ela, o mais puro tédio. Sem ganhar o objeto da paixão, ela perde o mundo".

7 comentários:

  1. Domingo com acarajé na praia? Que chato hein? Tudo lindo: a música, o poema e o texto do Cícero.
    Bjs
    Sandra

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  2. Tem razão, Sandra, foi um dia aborrecidíssimo.
    Obrigada pela visita.
    Bj

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  3. Lê-rê-lê-rê...que vida mais difícil...
    Obrigada pelos presentes de hoje e de sempre.
    Beijos
    Adriana

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  4. Muito bom esse texto do Antonio Cícero.
    Um beijo pra você com muita saudade.
    Luciano.

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  5. Oi Lu,
    Que bom que gostou.
    Saudade de vc tb, querido.
    Beijo grande.
    M

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  6. Monica,
    Adoro todas as suas indicações de músicas, poesias, livros, enfim...
    Sempre sensíveis demais.
    Como essa do texto do Antonio Cícero.
    O que só me faz querer registrar que o que eu mais gosto mesmo é de ler suas próprias impressões sobre a vida em geral, como aquela em que você fala dos "anos bem vividos".
    Sinto falta disso.
    Quando teremos mais?
    Com carinho e a imensa admiração, sempre.
    Patricia

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