sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Caros,

Em resposta a comentários e emails que recebo perguntando sobre novos textos e o sumiço das enquetes:

Em relação a estas, adoro fazê-las e, com a quantidade de assunto disponível, poderia postar várias por dia. É sempre um momento bem humorado de observar criticamente o que estamos vivendo, sobretudo na vida nacional.

Mas os acontecimentos no final do ano me desestimularam: as cenas degradantes (e recorrentes) de dinheiro sendo enfiado em meias e calças em Brasília, com as criaturas em suposto (e inacreditável) momento de oração pela "graça" obtida; os oportunismos de imagem na COP-15; e - que horror! - o linguajar presidencial para exprimir saneamento básico - esse investimento de primeira necessidade cuja falta histórica compromete a dignidade de tantos brasileiros.

Sinceramente...é quase impossível eu não querer fazer graça de tudo. Mas sobre os dois primeiros itens, sem comentários. A respeito do último, acho de uma tristeza infinita que o presidente da República, à guisa de falar "a língua do povo" - e assim subestimar a capacidade de pessoas simples de entender palavras como "água" e "esgoto" - recorra a palavrão.Enquanto Lula é reverenciado como um mestre da comunicação, com suas metáforas futebolísticas para traduzir economês e politiquês, vá lá. Mas palavrão é recurso muito feio, vulgar, acho eu, mesmo no dia a dia e entre amigos. Que dirá na boca da maior autoridade do país.

Se meu filho chegasse em casa dizendo que o presidente quer tirar o povo da M, como explicar a ele que esse não é um modo adequado de se expressar? Tudo tão leviano, tão irresponsável. E tão impune. E o que dizer da tosca história do "porco e do dono do porco"? Caetano, recententemente, declarou que Lula se expressava de forma cafona e grosseira. Se fosse só cafona, uma questão - ainda que lamentável - estilística. Mas grosseria...Hoje, lendo a palestra de um empresário em 2008, ele disse: "Tenho às vezes vergonha de como ele (o presidente) fala". Que Lula agrida, sem dó nem piedade, a gramática e não demonstre um átimo de interesse em disfarçar o desprezo pela nossa língua, que restrinja esse "costume" deplorável a sua casa, ou ao seu palácio. Enfim, aos seus. Em público, exijamos mais. Nossas crianças merecem. Todos merecemos respeito e fala educada.

Por fim, essa situação tristíssima em nosso Estado no início do ano. E, agora, indizível, no Haiti. Mentalizemos e oremos por todos. A respeito de nossa Dra. Zilda Arns, li no Globo um pensamento do teólogo Luiz Antonio Ricci, atribuído à Madre Teresa de Calcutá: "Não podemos permitir que uma pessoa deixe a nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz".

Impossível agradecer a mobilização de tantos - médicos, bombeiros, voluntários, jornalistas - que, com todas as dificuldades, estão indo para lá, numa atitude impregnada de uma humanidade assombrosa.

4 comentários:

  1. Como sempre em grande forma, Sinelli.
    Poderoso texto.
    Bjs
    Rafa

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  2. Monica
    Se pra nós esse palavreado bronco do presidente já é o fim do mundo, fico imaginando pra vc, uma estilista refinada e de primeira linha...
    Carlos Eduardo

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  3. É verdade, sua escrita fina deve se sentir profundamente agredida com esse inacreditável padrão presidencial.
    Parabéns, Mônica.
    Que apesar de tudo que está acontecendo, você continue a nos encantar com as enquetes e os comentários bem humorados e tão próprios.
    Um beijo.
    Sandra.

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  4. É duro de aguentar mesmo! Ainda bem que temos aqui esse paraíso onde a nossa língua é tratada como a um cristal.
    Um beijo, querida
    Adriana

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