Apetitosa a foto acima, não? Mas está faltando um prato. Fui almoçar no Sushi Leblon. Pedi como entrada lulas grelhadas. Não tinha lula. Escolhi, então, atum com molho picante. Zero de atum. A terceira tentativa assinalou, entre outras opções, fatias de peixe branco, azeite trufado e flor de sal. Que chegou à mesa exalando o inconfundível cheiro de peixe...hum...ou vencidíssimo ou fruto de um raro cruzamento com gambá.
Provamos o acepipe, à guisa de que não restasse a menor dúvida de que o alimento estava, de fato, estragado. Tese, como esperado, confirmadíssima. Falei com o garçom, que atribuiu o miasma à presença do azeite trufado. E com aquele semblante irônico, como se não fôssemos capazes de distinguir entre uma coisa e outra - um peixe deteriorado e um suposto aroma tão requintado que fugia a nosso destreinado paladar.
Pedi, polidamente, para ele levar as lâminas do animal em decomposição ao chef, que, lá de dentro, atestou que estava tudo certo com o prato. Minha vontade foi me levantar da mesa e solicitar que o tal chef mastigasse (e engolisse), na minha frente, a rara iguaria, pelo visto, reconhecida apenas por papilas gustativas mais sofisticadas do que as nossas.
Mas, em consideração a uma super advogada canadense - que, em seu último dia no Brasil, havia pedido para o almoço acontecer num restaurante japonês (minha sugestão era outra) -, preferi, simples e educadamente, pedir la addition e migrar para outro endereço gastronômico.
Só um adendo: o atum (na foto), que, inicialmente, estava em falta, "chegou" magicamente à casa. E à nossa mesa. Devidamente deixado em grande parte no prato.
A conta chegou, sem a presença de nenhum representante do restaurante que viesse, ao menos, tentar saber o que estava acontecendo. A notícia dada pelo garçom de que a iguaria não compreendida em toda a sua refinada explosão de aromas não seria cobrada foi revestida de um tom que explicitava estar a casa a fazer um favor, e não mais do que sua obrigação.
Não foi a primeira vez que, em restaurantes ditos bacanas, tentaram me convencer que estragado seria sinônimo de algo tão espetacularmente refinado a que os comensais jamais atingiriam. Empáfia, sem dúvida, é o ingrediente mais contaminador que um restaurante pode oferecer aos clientes.
Para desanuviar o espírito, fotografei as flores lindas na rua Dias Ferreira.
E deixo esse trecho de Museu do ciúme, do livro Chão de terra, de Rosiska de Oliveira.
O ciúme tem cheiro que machuca e fundo musical que faz chorar. É um grande autor de romances de terceira, capaz de inventar uma vida inteira, personagens, tirados do nada, que se movimentam como marionetes, a quem o enciumado dita as falas e sobretudo as respostas, lá onde se confessa a traição.

O ciúme é um mundo à parte, um inferno privado onde alguém se instala para viver uma vida de voyeur. Esse mundo tem uma lógica própria, perversa, em que a relação ameaçada pelo desgaste e pelo tédio reacende na suspeita e no ódio".