quarta-feira, 10 de março de 2010

Peixinho Chanel nº 5


Apetitosa a foto acima, não? Mas está faltando um prato. Fui almoçar no Sushi Leblon. Pedi como entrada lulas grelhadas. Não tinha lula. Escolhi, então, atum com molho picante. Zero de atum. A terceira tentativa assinalou, entre outras opções, fatias de peixe branco, azeite trufado e flor de sal. Que chegou à mesa exalando o inconfundível cheiro de peixe...hum...ou vencidíssimo ou fruto de um raro cruzamento com gambá.

Provamos o acepipe, à guisa de que não restasse a menor dúvida de que o alimento estava, de fato, estragado. Tese, como esperado, confirmadíssima. Falei com o garçom, que atribuiu o miasma à presença do azeite trufado. E com aquele semblante irônico, como se não fôssemos capazes de distinguir entre uma coisa e outra - um peixe deteriorado e um suposto aroma tão requintado que fugia a nosso destreinado paladar.

Pedi, polidamente, para ele levar as lâminas do animal em decomposição ao chef, que, lá de dentro, atestou que estava tudo certo com o prato. Minha vontade foi me levantar da mesa e solicitar que o tal chef mastigasse (e engolisse), na minha frente, a rara iguaria, pelo visto, reconhecida apenas por papilas gustativas mais sofisticadas do que as nossas.

Mas, em consideração a uma super advogada canadense - que, em seu último dia no Brasil, havia pedido para o almoço acontecer num restaurante japonês (minha sugestão era outra) -, preferi, simples e educadamente, pedir la addition e migrar para outro endereço gastronômico.

Só um adendo: o atum (na foto), que, inicialmente, estava em falta, "chegou" magicamente à casa. E à nossa mesa. Devidamente deixado em grande parte no prato.

A conta chegou, sem a presença de nenhum representante do restaurante que viesse, ao menos, tentar saber o que estava acontecendo. A notícia dada pelo garçom de que a iguaria não compreendida em toda a sua refinada explosão de aromas não seria cobrada foi revestida de um tom que explicitava estar a casa a fazer um favor, e não mais do que sua obrigação.

Não foi a primeira vez que, em restaurantes ditos bacanas, tentaram me convencer que estragado seria sinônimo de algo tão espetacularmente refinado a que os comensais jamais atingiriam. Empáfia, sem dúvida, é o ingrediente mais contaminador que um restaurante pode oferecer aos clientes.

Para desanuviar o espírito, fotografei as flores lindas na rua Dias Ferreira.
 
   
E deixo esse trecho de Museu do ciúme, do livro Chão de terra, de Rosiska de Oliveira.




O ciúme tem cheiro que machuca e fundo musical que faz chorar. É um grande autor de romances de terceira, capaz de inventar uma vida inteira, personagens, tirados do nada, que se movimentam como marionetes, a quem o enciumado dita as falas e sobretudo as respostas, lá onde se confessa a traição.







O ciúme é um mundo à parte, um inferno privado onde alguém se instala para viver uma vida de voyeur. Esse mundo tem uma lógica própria, perversa, em que a relação ameaçada pelo desgaste e pelo tédio reacende na suspeita e no ódio".  

6 comentários:

  1. Monica, quase tive um troço de rir com essa história de cruzamento de peixe com gambá!!!
    Muitos bjs
    Alex

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  2. Monica,
    Sempre tão bem vindos o frescor e o cheiro delicioso e reconfortante da tua inteligência e sensibilidade.
    Lu.

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  3. Peixe com chanel 5, Sinelli? kkkkkkkkkk
    De onde vc tira essas idéias hilárias? Só vc...
    E as fotos como sempre lindas.
    Beijos.
    Marília.

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  4. Sinelli,

    Se eu tivesse contigo, a gente fazia o gerente comer esse peixe, a se fazíamos....rss

    Que absurdooooo

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  5. Sinelli,

    A Lili andou escondendo o jogo do teu blog !!!

    Agora serei assídua, claro, na medida do "impossível", entre estudos, trabalhos, Michelle, casa etc...ter esse porto seguro aqui é o máximo !!!

    Obrigada por esse blog tão belo !!!!

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  6. Sei muito bem como é esse lance da gente dizer que uma coisa está estragada e os caras teimarem em dizer que é assim mesmo.
    Agora, vc contando é uma delícia, exatamente como deveriam ser todos os pratos nos restaurantes da cidade.
    Bjs
    Rubem

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